terça-feira, 8 de maio de 2012


A “garota da estrada” de volta à estrada. Preparativos. É AMANHÃ! Santa Maria, UFSM, e um seminário lindo de História Política me esperam.

“Basta entrar na estrada e ela vira uma pessoa diferente. Coloca a música que mais gosta, abre a janela do carro e pensa, com um sorriso indisfarçado: “Estou deixando pra trás aquela outra”. No porta-malas, uma sacola com as roupas que a outra não usa durante a semana. Seu iPod. Sua câmera fotográfica. Um livro ou dois, porque é preciso terminar a leitura que aquela outra começou, mas nunca tem tempo para concluir. [...] Ao passar por cada placa de sinalização, mais distante ela fica da sua cidade e mais perto de si mesma. Não é todo dia que se sai de férias, mesmo que durem apenas pouco mais de 48 horas. Não são férias de julho nem férias de verão: férias da outra! Deixou na casa da outra as sombras, bases, esfoliantes, mas o batom e o secador, isso ela não consegue abandonar. Não tem mais quinze anos. Mas quem é que consegue convencê-la de que não é mais uma garota? Aquela outra, a que ficou, bem que tenta. Abre a agenda e mostra todos os compromissos marcados. Coloca sobre a mesa todas as contas pra pagar. Marca hora no médico. [...] Uma tentativa de aniquilamento, mas felizmente malsucedida. Ela lembra disso tudo enquanto está na estrada e pensa: a outra tem razão, alguém tem que trabalhar, pagar as contas, cumprir a agenda, dar ordens, receber ordens, ser responsável. Mas não todo dia, não toda vida. Aquela lá, a que ficou, é uma mulher confiável, é uma mulher de olho no relógio e no calendário, uma mulher cumpridora do que esperam dela. Mas ela não pode estar no controle o tempo todo, ela tem que permitir que eu escape dessa organização de vez em quando. [...] Um dia inteiro. Dois dias inteiros. Ela tem que aceitar e até mesmo incentivar que eu pegue essa estrada e a deixe de lado, que eu faça isso sem culpa, que eu faça isso por ela. 
Eu, a garota dentro dela.”