A “garota da estrada” de volta à estrada. Preparativos. É
AMANHÃ! Santa Maria, UFSM, e um seminário lindo de História Política me
esperam.
“Basta entrar na estrada e ela vira uma pessoa diferente.
Coloca a música que mais gosta, abre a janela do carro e pensa, com um sorriso
indisfarçado: “Estou deixando pra trás aquela outra”. No porta-malas, uma
sacola com as roupas que a outra não usa durante a semana. Seu iPod. Sua câmera
fotográfica. Um livro ou dois, porque é preciso terminar a leitura que aquela
outra começou, mas nunca tem tempo para concluir. [...] Ao passar por cada
placa de sinalização, mais distante ela fica da sua cidade e mais perto de si
mesma. Não é todo dia que se sai de férias, mesmo que durem apenas pouco mais
de 48 horas. Não são férias de julho nem férias de verão: férias da outra!
Deixou na casa da outra as sombras, bases, esfoliantes, mas o batom e o
secador, isso ela não consegue abandonar. Não tem mais quinze anos. Mas quem é
que consegue convencê-la de que não é mais uma garota? Aquela outra, a que
ficou, bem que tenta. Abre a agenda e mostra todos os compromissos marcados. Coloca
sobre a mesa todas as contas pra pagar. Marca hora no médico. [...] Uma
tentativa de aniquilamento, mas felizmente malsucedida. Ela lembra disso tudo
enquanto está na estrada e pensa: a outra tem razão, alguém tem que trabalhar,
pagar as contas, cumprir a agenda, dar ordens, receber ordens, ser responsável.
Mas não todo dia, não toda vida. Aquela lá, a que ficou, é uma mulher
confiável, é uma mulher de olho no relógio e no calendário, uma mulher
cumpridora do que esperam dela. Mas ela não pode estar no controle o tempo
todo, ela tem que permitir que eu escape dessa organização de vez em quando.
[...] Um dia inteiro. Dois dias inteiros. Ela tem que aceitar e até mesmo
incentivar que eu pegue essa estrada e a deixe de lado, que eu faça isso sem
culpa, que eu faça isso por ela.
Eu,
a garota dentro dela.”
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