sábado, 9 de junho de 2012

"Você traz o mundo em si, garota"



Desde sempre ela traz em si uma inquietação constante. Uma necessidade incompreensível de "abraçar o mundo", fazer tudo ao mesmo tempo, não parar nunca e, devido ao seu prefeccionismo exacerbado, dar 110% de si em tudo, sempre. Tem vários empregos diferentes, estuda, faz um curso atrás do outro, dorme pouco, é cheia de ansiedades, incertezas, pressa. Fala o tempo todo e tem fome. Fome de saber, fome de conhecer, fome de viajar, fome de independência, fome de conquistas, fome de vitórias. Ela sempre foi assim. Simplesmente e estranhamente assim. Sem parar muito para pensar no grande motivo por trás de tudo isso. Vez ou outra o famoso stress a visitava e a obrigava a dar uma pausa, "a puxar o freio de mão", mas ainda  assim isso não a parava. Nada a parava. Até que um belo dia ela conheceu uma dessas pessoas ligadas à psicologia, dotadas da capacidade de traduzirem as pessoas com um só olhar, que já foi logo falando:

- "Você traz o mundo em si, garota. Uma maturidade precoce. Quando entrar na vida adulta, vai ser daquele tipo que se se estiver ao seu alcance trabalhar 26 horas por dia, vai trabalhar. Em busca de algo. Porque - por mais contraditório que isso possa parecer - ainda falta alguma coisa "aí dentro" que a faz inquieta. Um buraco a ser preenchido".

E a quase profecia se cumpre. Hoje aqui está a garotinha, dando entrada à tão sonhada vida adulta. Momento em que ela percebe que as coisas continuam as mesmas, quem mudou foi ela. Sim, ainda com a sua maturidade precoce, sua gana por viver, seu prefeccionismo e tudo o mais. Porém, suas ansiedades não são mais cheias de ansiedade. Agora são cheias de uma sensação quase que palpável de tranquilidade. Ainda ansiedade, mas uma ansiedade tranquila. Uma tranquilidade que só a maturidade nos pode oferecer. Hoje ela entende aquelas sábias palavras que ouvira. Ela sabe qual era o tal buraco a ser preenchido, que hoje já não existe mais: o buraco das incertezas (profissionalmente falando). Era fruto da sua mania de ter que estar sempre no controle das situações. Ela odiava a sensação de não saber, de não ter o seu amanhã planejado. Sua independência de hoje não foi apenas sonhada. Foi planejada. Foi traçada. Ela planejava, sonhava, traçava mas, não sabia exatamente o que iria fazer do seu futuro. Hoje ela sabe. Ainda cheia de incertezas, como qualquer pessoa, mas com uma certa certeza única e um amor incondiscional capaz de "preencher todos os buracos possíveis": O JORNALISMO, a sua realização profissional. E talvez se ela não tivesse passado por todas as incertezas das quais passou, por todos os buracos possíveis (internos e externos), ela não estaria tendo essa certeza hoje. Tendo essa ansiedade tranquila de seguir em frente, na certeza de que as coisas acontecem no seu tempo certo, no lugar certo, e quando você está pronta para recebê-las. Talvez ela sinta falta da infância, onde não tinha contas a pagar, coisas a se preocupar, e sempre que adormecia no sofá da sala, acordava misteriosamente em sua cama. Mas ela confessa que ingressar na vida adulta, ter a sua tão sonhada independência e realização profissional (ou melhor, só o início dela) é a melhor coisa do mundo. Bom, ao menos é por enquanto. Até ela não viver várias outras "melhores coisas do mundo". A questão é que a vida é uma busca constante pelo contentamento. Porém, isso cansa, acaba com a nossa energia. "Se você correr atrás da vida com sofreguidão demais, ela leva à morte". O contentamento acaba fugindo, escapando por entre os nossos dedos, sempre uma fronteira à nossa frente. Em um determinado momento você precisa parar. Precisa relaxar, e deixar o contentamento vir até você.


















Nenhum comentário:

Postar um comentário