domingo, 17 de junho de 2012

Girls are strong


Elizabeth Gilbert escreveu que se eu quiser ser uma mulher autônoma, então preciso assumir o papel de ser minha própria protetora, e que existe uma frase famosa de Gloria Steinem em que ela aconselha as mulheres a se transformarem nos homens com quem gostariam de se casar, o que pra mim, faz todo o sentido do mundo. Mulheres fortes aprendem ao longo da vida a construir "escudos protetores" em sua defesa. As pessoas (principalmente aquelas que eu gosto de me referir como "mulherzinhas", no sentido pejorativo) gostam de julgar isso como frieza, trauma, e etc. Mas são apenas técnicas de defesa, de auto-proteção, de mulheres que perceberam que não precisam ficar sentadas esperando que alguém as proteja, que no final das contas elas estão sozinhas, e precisam lidar com isso. Sozinhas nos momentos mais importantes da vida, quero dizer: na hora de tomar decisões importantes, na hora de correr atrás dos seus objetivos, na hora de traças metas para sua vida, e até mesmo na hora de conhecer pessoas. Não existe esse papo de encontrar "a nossa outra metade da laranja" (ou seja lá o que esse ditado diga). Não somos seres pela metade. Bem, ao menos eu, não sou. Sou inteira, de carne e osso, e corpo e alma. Ás vezes tenho a nítida impressão de que eu atraio pessoas cujas vidas devem ser compartilhadas aqui, para inspirar as pessoas. Não pode ser por mera coincidência. Estava eu quinta-feira passada, dia 14 de junho, em Pelotas voltando para Rio Grande, quando conheço uma simpática senhorinha que gentilmente se oferece para dividir seu taxi comigo até o ponto de ônibus de volta para Rio Grande. Mal sabia eu que esta humilde senhorinha estaria prestes a mudar a minha vida para sempre, com um relato de vida que eu jamais ouvira. Depois de um bom tempo de conversa esperando o ônibus para Rio Grande sobre profissões, sobre juventude, sobre cultura, sobre política, sobre graduações, sobre mercado de trabalho, sobre o politicamente correto e politicamente incorreto. Ela revelou ser professora aposentada, ainda apaixonada pela arte de lecionar, ainda mais quando se trata de crianças - que segundo ela "nos trazem estrelas nos olhos" - estar no auge dos seus 83 anos, gostar de ir ao salão de beleza, de pintar e bordar, e de dirigir pelo centro da cidade de Pelotas. E SER SOLTEIRA. Não sei exatamente qual o motivo. Mas, ouvindo ela contar suas histórias tão cheia de certezas, felicidade, segurança e amor, estava esperando ela falar de filhos, netos, e é claro, de um marido. O que acontece é que já rotulamos em nossas mentes que senhorinhas estão fardadas a envelhecer e morrer junto de seus maridos, em cadeiras de balanço, sorrindo e relembrando juntos de suas juventudes. Me vi chocada e perguntei:

- "A senhora não tem filhos"?
E ela sorriu, e respondeu em seu tom de voz mais sereno:
- "Se eu disse que não tenho marido, como eu teria filhos querida"? Os tempos são outros hoje em dia, antigamente isso era impossível.
Fiquei em silêncio alguns instantes, e perguntei sem pensar:
- A senhora é feliz? (Esperando uma série de reclamações sobre a injustiça da vida, sobre solidão, sobre não ter alguém pra se aquecer a noite e todas essas coisas que as pessoas comentam.) Quando ela me surpreende, quase como um tapa na cara, dizendo:
- Muito. Mais feliz impossível. Sabe querida, não existe uma fórmula de felicidade. Ao menos, não existe apenas uma. Eu sou uma pessoa muito romântica, acredito no amor, e o acho a coisa mais linda do mundo. Mas, aprendi a multiplicar todo o amor que eu daria a alguém se eu o tivesse, a tantas pessoas que precisam dele e não o tem. Como meus vizinhos, o atendente no supermercado, a moça da floricultura, meus sobrinhos, meus irmãos, as crianças que eu sempre dei aulas. E sabe o que é mais engraçado? Eu também recebo todo esse amor de volta. E em dobro. Por isso posso dizer que não sinto a menor falta de ter alguém. Eu tenho todo o amor do mundo, pra dar e receber. Se um dia outro tipo de amor vier até mim, vai ser também recebido de braços abertos. O amor é sempre bem vindo, em todas as suas tantas formas.

Que ironia do destino. Foi como o que é politicamente correto, recebesse ali um alvará de soltura. O que eu senti foi uma mistura de vontade de sorrir, com vontade de chorar, com vontade de gargalhar e gritar: - Então é isso! Ou qualquer coisa assim. Ou de abraçar ela, e a agradecer por ter compartilhado isso comigo, uma desconhecida. (Deixo aqui minha eterna admiração e adoração por senhorinhas, agora excepcionalmente por essa.) Mas, a questão é que não existem mesmo fórmulas prontas de felicidade. De que a única maneira de ser feliz é ser casada, ter 3 filhos lindos, morar em uma casa grande, e ter um cachorro e um jardim. Pessoas são felizes assim, outras não são. Não existe vida errada, ou vida certa. Só existe aquilo que nos faz bem, e o que não faz. E a nossa capacidade de adaptação a isso. No final das contas, é só isso o que importa.








sexta-feira, 15 de junho de 2012

Keep Calm and Make Coffee

Não há nenhum problema tão sério nesse mundo que não possa ser curado com um banho quente, 3 isalações profundas, fé, e um café bem forte (sem açúcar).

















Yoga


Eu posso me confessar ser uma pessoa de fácil irritabilidade. Mas não por culpa minha, e sim por culpa do mundo. O mundo caiu, está de pernas para o ar. As coisas estão erradas, e por isso me irritam. Um bom exemplo que não só me irrita, mas também me entristece é de como as coisas andam banalizadas hoje em dia. Tudo virou moda, tudo virou motivo para status, tudo gira em torno do dinheiro. E essas coisas que foram banalizadas vão além do que agora é até clichê dizer que banalizou: músicas, o "eu te amo", e etc. São coisas reais. Coisas, na minha opinião, sagradas, e que não deveriam estar passando por isso. Estou me refirindo a um exemplo fundamental para esta postagem, a um dos amores da minha vida, um dos meus principais alicerces de sustentanção para a vida: o Yoga. Nos dias de hoje, o que percebo observando pessoas, lugares, e perfis em redes sociais é que virou moda fazer yoga. Pessoas que não sabem nem o real significado da sua palavra fazem yoga. Pessoas que não seguem a sua prática no cotidiano, e que contradizem tudo o que gira em torno da palavra e dos seus ensinamentos sagrados indianos. Práticas infundáveis estão sendo inventadas, qualquer um pode dar aulas de yoga, estão cobrando preços absurdos, e o que deveria ser o principal, que é o que o significado da palavra diz, ficou para trás. O principal agora é o corpo, fazem yoga para se tornarem flexíveis e tonificados, e é claro: para tirarem fotos das posições e postarem nas redes sociais. Está errado. Não é esse o principal. Ao menos, não é o que os antigos ensinamentos do Yoga tradicional nos dizem:

"Yoga, em sânscrito, pode ser traduzido como "união". A origem da palavra é o radical yuj, que significa "pôr cangalha êm", dedicar-se a uma tarefa com a disciplina de um boi. E a tarefa do yoga é encontrar união - entre mente e corpo, entre o indivíduo e o seu Deus, entre nossos pensamentos e a origem dos nossos pensamentos, entre professor e aluno, e até mesmo entre nós e nossos semelhantes. [...] No Ocidente, conhecemos o yoga sobretudo por meio de seus agora famosos exercícios para alongar o corpo, mas isso é apenas o Hatha Yoga, um dos ramos dessa filosofia. Os antigos desenvolveram essa filosofia não para deixar o corpo em forma, mas sim para soltar seus músculos e sua mente de modo a prepará-los para meditação. As posições consistem somente em "soltar os nós do corpo, para então poder soltar os nós da mente." [...]Yoga é o esforço que uma pessoa faz para vivenciar pessoalmente a sua divindade, e em seguida para sustentar essa experiência. Yoga é o domínio de si e o esforço dedicado a desviar a atenção de reflexões intermináveis sobre o passado e preocupações infindáveis com o futuro para, em vez disso, conseguir buscar um lugar de eterna presença, de onde se possa olhar com tranquilidade para si mesmo e para o mundo ao redor. Somente dessa perspectiva de equilíbrio da mente é que a verdadeira natureza do mundo (e de você próprio) lhe será revelada."

Yoga é união. É equilíbrio. "Ele queima todo o seu lixo, todas as suas emoções negativas". Trabalha os níveis da consciência humana através da meditação, trabalha os nossos sentimentos e as nossas emoções, e é como se abrisse os nossos olhos e mentes para um mundo completamente diferente do que estávamos acostumados a ver. É como se ele nos permitisse que "víssemos nossas vidas e até a nós mesmos do lado de fora, como um quadro na parede". Tudo isso, obviamente, se praticado com a tamanha dedicação que exige. Segunda a minha mestra de Yoga, que citou lindamente isto na prática da manhã chuvosa de hoje, "todos nós temos duas forças extremas dentro de nós: O Yin (o passivo, noturno, escuro e frio - Lua), e o Yang (o ativo, diurno, luminoso e quente - Sol). O yoga nos ajuda a encontrar o equilíbrio entre os dois extremos." O Yin dá origem ao Yang e o Yang dá origem ao Yin.  E mais, nos possibilita que de acordo com a nossa memória, possamos "acionar" esse ponto de equilíbrio dentro de nós, sempre que quisermos. Mas, porém eu ainda me entristecendo com a banalização que as pessoas fizeram de algo tão lindo, sagrado e de tamanho poder purificador, tenho em mim a tranquilidade de uma consciência plena de que o real ensinamento vem para as pessoas certas, para as que merecem e para as que estão prontas para recebê-lo, no seu tempo certo. E é claro, agradecida por ser uma dessas pessoas, pois não sei o que seria da minha vida sem o Yoga, e por poder compartilhar isso aqui.












sábado, 9 de junho de 2012

"Você traz o mundo em si, garota"



Desde sempre ela traz em si uma inquietação constante. Uma necessidade incompreensível de "abraçar o mundo", fazer tudo ao mesmo tempo, não parar nunca e, devido ao seu prefeccionismo exacerbado, dar 110% de si em tudo, sempre. Tem vários empregos diferentes, estuda, faz um curso atrás do outro, dorme pouco, é cheia de ansiedades, incertezas, pressa. Fala o tempo todo e tem fome. Fome de saber, fome de conhecer, fome de viajar, fome de independência, fome de conquistas, fome de vitórias. Ela sempre foi assim. Simplesmente e estranhamente assim. Sem parar muito para pensar no grande motivo por trás de tudo isso. Vez ou outra o famoso stress a visitava e a obrigava a dar uma pausa, "a puxar o freio de mão", mas ainda  assim isso não a parava. Nada a parava. Até que um belo dia ela conheceu uma dessas pessoas ligadas à psicologia, dotadas da capacidade de traduzirem as pessoas com um só olhar, que já foi logo falando:

- "Você traz o mundo em si, garota. Uma maturidade precoce. Quando entrar na vida adulta, vai ser daquele tipo que se se estiver ao seu alcance trabalhar 26 horas por dia, vai trabalhar. Em busca de algo. Porque - por mais contraditório que isso possa parecer - ainda falta alguma coisa "aí dentro" que a faz inquieta. Um buraco a ser preenchido".

E a quase profecia se cumpre. Hoje aqui está a garotinha, dando entrada à tão sonhada vida adulta. Momento em que ela percebe que as coisas continuam as mesmas, quem mudou foi ela. Sim, ainda com a sua maturidade precoce, sua gana por viver, seu prefeccionismo e tudo o mais. Porém, suas ansiedades não são mais cheias de ansiedade. Agora são cheias de uma sensação quase que palpável de tranquilidade. Ainda ansiedade, mas uma ansiedade tranquila. Uma tranquilidade que só a maturidade nos pode oferecer. Hoje ela entende aquelas sábias palavras que ouvira. Ela sabe qual era o tal buraco a ser preenchido, que hoje já não existe mais: o buraco das incertezas (profissionalmente falando). Era fruto da sua mania de ter que estar sempre no controle das situações. Ela odiava a sensação de não saber, de não ter o seu amanhã planejado. Sua independência de hoje não foi apenas sonhada. Foi planejada. Foi traçada. Ela planejava, sonhava, traçava mas, não sabia exatamente o que iria fazer do seu futuro. Hoje ela sabe. Ainda cheia de incertezas, como qualquer pessoa, mas com uma certa certeza única e um amor incondiscional capaz de "preencher todos os buracos possíveis": O JORNALISMO, a sua realização profissional. E talvez se ela não tivesse passado por todas as incertezas das quais passou, por todos os buracos possíveis (internos e externos), ela não estaria tendo essa certeza hoje. Tendo essa ansiedade tranquila de seguir em frente, na certeza de que as coisas acontecem no seu tempo certo, no lugar certo, e quando você está pronta para recebê-las. Talvez ela sinta falta da infância, onde não tinha contas a pagar, coisas a se preocupar, e sempre que adormecia no sofá da sala, acordava misteriosamente em sua cama. Mas ela confessa que ingressar na vida adulta, ter a sua tão sonhada independência e realização profissional (ou melhor, só o início dela) é a melhor coisa do mundo. Bom, ao menos é por enquanto. Até ela não viver várias outras "melhores coisas do mundo". A questão é que a vida é uma busca constante pelo contentamento. Porém, isso cansa, acaba com a nossa energia. "Se você correr atrás da vida com sofreguidão demais, ela leva à morte". O contentamento acaba fugindo, escapando por entre os nossos dedos, sempre uma fronteira à nossa frente. Em um determinado momento você precisa parar. Precisa relaxar, e deixar o contentamento vir até você.


















terça-feira, 8 de maio de 2012


A “garota da estrada” de volta à estrada. Preparativos. É AMANHÃ! Santa Maria, UFSM, e um seminário lindo de História Política me esperam.

“Basta entrar na estrada e ela vira uma pessoa diferente. Coloca a música que mais gosta, abre a janela do carro e pensa, com um sorriso indisfarçado: “Estou deixando pra trás aquela outra”. No porta-malas, uma sacola com as roupas que a outra não usa durante a semana. Seu iPod. Sua câmera fotográfica. Um livro ou dois, porque é preciso terminar a leitura que aquela outra começou, mas nunca tem tempo para concluir. [...] Ao passar por cada placa de sinalização, mais distante ela fica da sua cidade e mais perto de si mesma. Não é todo dia que se sai de férias, mesmo que durem apenas pouco mais de 48 horas. Não são férias de julho nem férias de verão: férias da outra! Deixou na casa da outra as sombras, bases, esfoliantes, mas o batom e o secador, isso ela não consegue abandonar. Não tem mais quinze anos. Mas quem é que consegue convencê-la de que não é mais uma garota? Aquela outra, a que ficou, bem que tenta. Abre a agenda e mostra todos os compromissos marcados. Coloca sobre a mesa todas as contas pra pagar. Marca hora no médico. [...] Uma tentativa de aniquilamento, mas felizmente malsucedida. Ela lembra disso tudo enquanto está na estrada e pensa: a outra tem razão, alguém tem que trabalhar, pagar as contas, cumprir a agenda, dar ordens, receber ordens, ser responsável. Mas não todo dia, não toda vida. Aquela lá, a que ficou, é uma mulher confiável, é uma mulher de olho no relógio e no calendário, uma mulher cumpridora do que esperam dela. Mas ela não pode estar no controle o tempo todo, ela tem que permitir que eu escape dessa organização de vez em quando. [...] Um dia inteiro. Dois dias inteiros. Ela tem que aceitar e até mesmo incentivar que eu pegue essa estrada e a deixe de lado, que eu faça isso sem culpa, que eu faça isso por ela. 
Eu, a garota dentro dela.”